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segunda-feira, outubro 23, 2006

Do perfume fortuito

De manhã – num daqueles dia em que se acorda sem se estar preparado – ainda a mastigar os flocos e com pingos de água na cara, pôs um pouco de perfume e penteou o cabelo da melhor forma que podia, isto é, conforme a mala e o casaco mal vestido o deixaram. Saiu de casa a correr, pois o tempo, que já escasseava, costuma ser dinheiro.
À mesma hora, ela dava os últimos retoques de uma maquilhagem leve. Pôs um pouco do seu perfume também. Quanto ao pequeno-almoço, «há um cafezinho lá mesmo ao pé do trabalho» pensou, justificando o desleixo; um queque e um galão, ou talvez um sumo, depende.
Cigarro nos queixos, braço levantado, sorriso cativante. Aí estava o autocarro. Ele entrou, passou o passe no “revisor autómato”, e sentou-se.
Ela vinha de comboio para a cidade, morava a duas estações do centro, mas era muito para vir noutro transporte qualquer; o passe era mais barato e tudo. Entrou no comboio, encontrou um espaço onde podia sentar-se a ler o último romance de um seu escritor fetiche e deu um pequeno arroto a fome.
Chegaram ao mesmo terminal, não à mesma hora, mas a segundos de um encontro fortuito. Ele do autocarro, ela do comboio. Desceram para o metro, pela mesma escada, a degraus de distância. Tão perto e tão longe. Escusado será ilustrar a protocolar entrada no metro, mais vale que ela fale por si: pessoas, pisões, cotoveladas, águas-de-colónia, hálitos, risos e constrangimentos.
Por incrível que pareça, e como se este texto não o fizesse já adivinhar, entraram na mesma porta e, ele agarrado ao varão, veio ela encostar os cabelos lisos, e de um castanho caramelo, à sua mão.
– Desculpe, desculpe – dizia ela, quase envergonhada. – Não foi minha intenção!
– Mas, não há mal nenhum – as faces ruborizaram. – A minha mão já aí estava, não me importa e, para ser franco, gostei de sentir o seu cabelo a tocar-me nas mãos. – Disse, num acesso de atrevimento, muito vermelho, como se estivesse a rebentar de gozo. Depois caiu em si.
Continua…

quinta-feira, outubro 19, 2006


- Por que choras? Quem te fez mal?
– Foram os donos da bola que não me deixaram jogar...
– Eu vou falar com eles para ta emprestarem também.
– Não é essa bola, mãe. É a bola que rola à volta do sol.
Eles são só 2 ou 3... e nós, os outros todos, ficamos só a assistir ao circo...
O que é o jantar??
Escrito (e muito bem!) por Gui

- Chama-o p’ra dentro
Diz-lhe que venha tomar banho e jantar!


O Mundo está lá fora a brincar.

Despreocupado, infantil, curioso
Por vezes cruel,
Mas de uma ternura incomensurável

- Não te disse
Que não te queria na rua até esta hora!
E, por que choras, quem te fez mal?
Que mal te fiz eu? Sou só um homem
Pudesse eu pegar-te ao colo

O Mundo lavou as mãos

Lavou o resto do corpo,
Estava muito sujo

Mas não se havia sujado sozinho
Tinham-no empurrado
E ele havia caído

- Quem te fez isso?

- Foram os meninos grandes e maus
Os que dizem mandar na rua
Estava eu caído no chão, chorando,
E eles, em pé, a tentar tocar a Lua