Image hosting by Photobucket

quinta-feira, maio 26, 2005

Vês

Vês. Como afinal o fogo era momentâneo e bastou uma noite para que nada mais nascesse de nós. Vês. Como o receio que transpiraste não era de todo verdadeiro e que na verdade, ao apanhares-me nessa teia, me amedrontaste a mim. Vês. Quando te disse que não queria envolver-me mais ainda, porque fugias, e tu mesmo assim ficaste a ver-me fazer feridas. Vês. Afinal não podemos brincar com as emoções, temos de manter-nos fortes, resistir até que o outro ceda, porque desconfiamos que vai ceder, abandonar, sair, não é isto que queremos afinal. Vês. Como me tocaste ficando ilesa, que na promessa de um beijo me deixaste chama acesa, agora não dizes mais, porque estás bem. Vês. Ainda assim fico contente, sei que te disse uma ou outra coisa, fazendo-te acreditar, a ti, que tinhas já perdido esperanças. Vês. Só mais uma ferida, isto passa.

quarta-feira, maio 25, 2005

Do próximo passo...

Que se dane a convenção, ou a conveniência. Se te prometo as lágrimas, e os pulsares que as acompanham, prefiro que me digas que sim, em vez de andares a jogar xadrez com as peças que tenho escondido. São agora longas as noites que não passámos juntos, já me deixaste saudade plantada no peito. O brilho do teu rosto encandeia, as curvas que ainda quero tocar são fechadas, que me doa o cotovelo em todos os momentos que te não vejo. A tua cabeça prometia mais do que o simples encosto que a fez aportar no meu ombro, e a tua descontracção ainda estava temperada com nervos, mas, era a primeira vez, não era? O meu braço não se escondeu do carinho e a minha boca desejava já o contacto, mas a puta da conveniência, ou da convenção, gorou o desejo que se plantou nos meus poros. Era bom sentir-te, porém… ainda se fala de medo nas ruas da minha vida.

sábado, maio 21, 2005

A mais bela.

Dizem as más línguas que foste aquela provocação que nasceu no verão, neste verão, de pulsos quentes e latejantes que se arrastou no meu pensamento.
Calculei mal as coisas, e bebia demasiado enquanto que pensava na batota que tinha que fazer para te ganhar.
Sempre que te olhava as mãos, sabia encontrar lá o meu futuro.
O trilho, curto e de caminho lesto, tinha a tua sombra para eu me guiar.
Ando aqui que não posso, caminhos-meio com a solidão e com um alguidar que promete espaço para lágrimas avulsas e serões em desatino.
Garanto-te que a embriaguez não passa de um néon em praça alegre com anúncios de paixões que duram mais que uma semana de férias.
Sem ti, que és a mais bela, sou o que sempre consegui ser: nada.

Autor: Rui

A sorte.

Sempre que nosso senhor pretende ver qualquer coisa de mais divertido lança à roleta os nossos ossos e a nossa existência.
Sabe ele, melhor que ninguém, que a malta por aqui se diverte em mundividências limitadas e grita apenas por amor, corpos quentes, morte distante e dinheiro no bolso.
Somos simples...
Sei eu, voz embargada e piano distante, que a tua voz imita a minha a dizer que o rato roeu a rolha da garrafa do rei da rússia.
Serve-se assim o final do dia como um perfume que gastamos, encostados em destroços, de mãos dadas e adivinhas a pensar no fecho da janela que não se quer enquanto que frequentamos um paraíso mais distante, mais longe, que não se vê, vasto, enquanto do nada, te contentas a caminhar nua na minha direcção, sarabandeando velas e vento e teias de aranha e copos de vinho.
A rua, lá fora, escancara-se no perfeito sentido da tua beleza.

Autor: Rui

Nevoeiro.

Sempre que me lembro de dar ao manifesto sonhos de perfeição, surgem-me os vapores de um nevoeiro londrino, envolto em teus braços, rodopiando no teu cheiro, querendo de ti ser chama e gelo.
Não ligues ao que digo, ainda menos ao que escrevo.
Sei demasiadamente bem - raios partam os advérbios de modo - dizia, sei demasiadamente bem que nada do que interessa passará melhor ou pior na manga estendida de amor que te ofereço.
Gosto de
- lá vai ele começar os discursos do costume! gosta disto e não gosta daquilo....
Não ligues ao coro, meu amor. Dizia que gosto de
- há-de morrer assim, a pensar em narrativas e epopeias, coros e tragédias e dramas gregos, sem perceber como escrever, sem cuidar de querer aprender
Não lhes ligues, meu amor. Dizia que gosto de coisas que aprendi a ter tempo de saber gostar, de desenhar uma cadeira para me sentar a aperfeiçoar a preguiça, de compreender o medo de um olho que não se fecha, de repetir a tabuada dos três que sempre me escapou, de ouvir o pedido surdo de um texto que se quer acabar.
Os coros, quando não enxovalham o autor, servem de balanço e trapézio.
Para mim, o teu amor, quando surgir, é o rasgão de luz que terminará as tréguas com o nevoeiro.
Com esse majestoso e sublime nevoeiro do qual tanto quero escapar.

Autor: Rui

domingo, maio 15, 2005

Tu.

Lembro-me da primeira vez que te vi.
Assim a modos de que uma das últimas, noite e música no carro, também me lembro do que pensei, sabes?
Espero que não me fujas e que eu me saiba perder em ti.
Pensarás decerto na rapidez disto tudo, no abrupto da coisa.
A resposta morre em mim, e no quanto me lembras velas, livros, desejo e sonho.
A cabeça não sai do mesmo sitio.
Da tua imagem.
Espero que me deixes ganhar-te.

Autor: Rui

domingo, maio 08, 2005

O meu amor.

O meu amor é menos do que eu quero e mais do que mereço.
O meu amor são dois olhos castanhos que fazem arco-íris.
O meu amor é lindo de chorar e lembra gavetas onde guardo memórias e tiro futuro.
O meu amor é inocente, água e cigarro aceso noite fora,
O meu amor é livro aberto, concerto de piano e violino,
O meu amor são paredes e quadros, Caravaggio e Bosch,
O meu amor, velas, mar, e letras e capitéis barrocos.
O meu amor?
tu.

Autor: Rui

O desafio.

Quando se anda por aqui a modos de que a fingir vitórias que não existem, beijos que não se dão, lágrimas que se derretem em fingidelas puxadas de olheiras, mais parece que o nosso amor é aquilo que as tuas mãos querem saber dizer, nada.
É a hora do patrocínio de anúncios de companhias de seguros que nada protegem, de bancos que esmifram a paupérrima nossa finança diária, ou de automóveis confiantes de chapa onde morrem famílias sorridentes em domingos soalheiros.
Confesso que nada disto me interessa.
Gosto das tuas falhas, dos teus dentes errados, da aprendizagem em escritores eminentemente maus - aprende-se tanto com escritores péssimos, confesso - gosto de velas com cheiro a baunilha à volta dos nossos corpos, gosto de jornais em catadupa a espreitarem títulos e óbitos enquanto encerro os estores, gosto de canecas com café a acabar-se, gosto de latas vazias, e gosto acima de tudo de não me comprometer com nada do que não gosto.

Autor: Rui

sexta-feira, maio 06, 2005

Ele há dias assim.

Não me apetece escrever nada.
Queria estar na praia, deserta claro, sem criancinhas imbecis, a ler H.L.Mencken e a ouvir Frank Sinatra.
Queria ir depois petiscar num pontão, com mirada para barcos com nomes de gajas: Maria Albertina, Dora Maria, com a madeira a dar horas ao sol.
Queria mais qualquer coisa que me tirasse a vontade de escrever.
Que se dane.
Há que acabar esta prosalhada, tomar banhoca e afundar-me nos teus braços.
Assim como assim, não dei erros de gramática e a malta não se espanta e ainda faz, inteira e sorridente, o 4.

Autor: Rui

terça-feira, maio 03, 2005

Dos medos.

Não é tanto o medo de morrer, convenhamos. Nem o medo só, abandonado. Esse, o medo, é brandido em cálices de Ballantines
- vamos embora que o moço trouxe outra vez o Ballantines à baila
-Não, fiquem, raios partem
-Ficamos, que se .....
- dizia, não é o medo, que esse, é brandido em cálices de Ballantines, gelo, mais Ballantines, mais gelo, mais Ballantines, deixa o gelo, ok, Ballantines, Ballantines, Ballantines, Ballantines
Gosto de ti.
-Não é essa a deixa, Rui
-desculpa, tens razão....
- dizia, gosto de ti, e gosto ainda mais de ti, com pestanas de mosquito, gordas, vendilhão, encardidas do sol, terror sismíco, mesmo que te veja apenas a cabeça, divertida a baloiçar entre bricadeiras no piso inferior, um rabo de escultura na parede falsa, uma meia-luz à vista da lareira.
Observas que me apetece a demissão.
Procuras na estante o Guerra e Paz.
Engano.
Faz anos que não tenho livros que não possa levar comigo para uma ilha deserta.

Autor: Rui

domingo, maio 01, 2005

O que ainda tenho comigo.

É sempre com a mesma saudade que sinto dos gelados de gelo nos dias de Verão que me lembro de ti. Nos intervalos do que sou perscruto a minha consciência feito Indiana Jones, em busca do tesouro que és e que continua perdido em mim. Ainda tenho moedas tuas dentro do meu cofre e ainda tenho leis tuas na constituição daquilo que sou. Pergunto-me muitas vezes, “Se já fomos um, por que existe agora espaço entre nós?”, a resposta vem congelada, e não há calor que a esquente. Se erigiste castelo e o tempo lhe deu consistência, não há aríete que não deixe marcas enquanto vou tentando arrombar as portas das tuas altas muralhas.