Eu.
Cá por mim, apetece-me escrever uma biografia.
O Yevthuchenko, escreveu a certa altura a biografia em vida, vivo, vivinho da silva.
Acho bem.
As biografias são mais apreciadas quando escritas em vida.
Sem cagaço do futuro.
Com aprumo, egoísmo, fracassos e acenos ao sucesso que nos vigia.
Por mim, contento-me com isto:
- Um Basset Hound triste e em depressão melancólica, todos os discos do Sinatra, todos os livros do Jorge Luis Borges e do António Lobo Antunes, uma resma de papel não-reciclado, vinte maços de SG Gigante, uma garrafa de Ballantines Finest, a obra política de Burke e Goldwater, uma fotografia da Malú Mader, os artigos de Paulo Francis, Nelson Rodrigues e Manuel Maria Múrias, alguns discos do Paulo de Carvalho, alguns poemas do Ary dos Santos, algumas revistas do Vasco Morgado, os filmes com o António Silva, todos os filmes com o Al Pacino, a artigalhada do Luiz Pacheco, o New York Times, o sol da Patagónia, o sonho de um partido de direita em Portugal, a Julia Roberts, a Natalie Portman, uma caixa de e-mail com 200 megas, um Portugal com pessoas livres.
Sinto-me triste.
Mas sei que posso ter isto tudo.
Mesmo que em sonhos.
Autor: Rui